terça-feira, 6 de maio de 2008

parece II

Parece não haver espaço suficiente para comer o que vejo,
a vontade é tão insossa quanto os segundos e terceiros passos;
encontrávamos surpresos os brancos em bolsos escondidos nas mochilas, sem querer, a vontade parece maior do que pode o recipiente agüentar. /alguma coisa entre o quadrado maior e os miligramas que deram um nome a ela: insuficiente. Existe uma interminável possibilidade de ter a si próprio, mas parece-me vago, é loucura. Possuir o próprio afoga o que resta de realidade nas águas barrosas de ser, assim é no espelho, como eu me via na divisão de dois ou mais reflexos: era onde escondia minha face – ou duas, ou três ou mais de todas elas que eu sinto, desconheço, mas admito totalmente minhas, completamente eu.


Marco Antonio --

Parece I

Parece que algo cairá e que o algo acontece com ele, ele era alguns segundos atrás, outro será e todos eles: eu. E ainda que a chuva caia incessante e que o tempo pressione minhas têmporas dolorosamente com as mãos ansiosas de uma esperança que não quero – parece-me humilde, pouco, metade da metade que alguém pode querer, mas não eu!- de uma face pouco conhecida, mas que eu não vejo como minha.

Parece que algo cairá, qualquer coisa entre o meu hálito e a dor no estômago e a perna nervosa; o tempo em cada parte dividida de ar, em cada faceta do meu próprio tempo, alguma coisa que eu queria sentir mais úmida em minhas mãos, alguma respiração que faça o viver mais resto do que possível. E porque as lembranças tomam rumos que desintegram-se por eles mesmos, a infância pode ser mais amassada e muito envolvida no que ainda não foi, muito mais que a incerteza. Estar entre meus eles é mais eu do que penso parecer.


Marco Antonio --