caio fernando abreu e o dia preferido.
Olha, fique em silêncio. Eu gosto do teu silêncio. Mas também
gosto de tuas palavras - acredite. Mas não vim aqui para te falar de
ruídos - ou não - , estou aqui para te falar de céu, mar, estrelas e
tapioca - como naquele dia, lembra? - Ontem por incrível que
pareça todos os lugares que pisei eu te procurei. Teus rastros
ficaram por lá. O balançar de teus cabelos e esse teu jeito meio
atacado de ser. Fiquei feliz em poder sentir tua falta, - a falta mostra
o quão necessitamos de algo/alguém. É assim o nosso ciclo. Eu te
preciso. Perto, longe, tanto faz. Preciso saber que tu está bem, se
respira, se comeu ou tomou banho - com o calor que está fazendo
neste verão, tome pelo menos uns três ao dia, e pense em mim,
estou com calor também. Me faz bem pensar nessas atividades
corriqueiras, que supostamente você está fazendo. Ah, e eu estou te
esperando, com meu vestido longo, óculos escuros grandes e meu
coração pulsando forte, e te abraçar até sentir o mundo girar apenas
para nós. É, eu gosto mesmo.
Caio Fernando Abreu
Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex (…) talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem junto para Paris (…) talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada.
Caio Fernando Abreu