segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

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Pedro,

as mudanças mais radicais são feitas por amor, ou pela falta dele.
comecei a pensar nisso agora, e precisava te contar. sabe, a gente
começa a esvaziar gavetas, jogar papéis fora, reorganizar pastas
no computador, sente vontade de bater um bolo, de correr muitos
quilometros, a gente só quer organizar todo o caos que a relação
trouxe pra vida. sabe que escrevo pra falar de mim e que com isso
eu tento nos manter por perto. o caos já está menor aqui, acho. aos
poucos estou me organizando, me fortalecendo com o que tenho.
acho que o mais difícil tem sido lidar com uma coisa que não termina
nunca, como os relacionamentos anteriores, que foram se apagando
e que ninguém tem coragem de falar nada porque não deixou de
sentir, mas também não sente com aquela intensidade inicial. soa
tão ciclico, soa tão subjetivo, soa tão culpa minha. mas tu sabe que
não é, que é aquela coisa das pessoas que não sabem receber quando
você está querendo entregar-lhes alguma coisa. eu ri tanto com
aquilo que tu me escreveu hoje. não ri por ter achado engraçado, ri
por ter me identificado tanto com tudo aquilo. será que minha fatia
de pão sempre vai cair com o lado da geléia pra baixo? talvez se eu
não tivesse criado expectativas toscas, agora nem ligaria. mas sabe,
eu esperei demais, de verdade. e é bem patético, porque mais de uma
pessoa disse como isso se encaminharia, e eu preferi acreditar no
que eu tava sentindo, numa reciprocidade que eu já nem sei se
existiu ou se eu só inventei. quase todo mundo foge, né. e quem não
foge se perde numa mentira ou outra: não dá vontade de parar de
acreditar que vai aparecer alguém que pense e sinta como nós? ah,
eu aqui te enchendo com isso, quando você ta bem pra caramba, né.
o pior de tudo é que eu continuo esperando, sabe, sentado aqui
tantando e tentando, mesmo que eu já tenha me decepcionado tanto
pela falta de consideração, pelo menos pra falar qualquer coisa e tal.
mas vai passar, a gente sabe que vai passar. e quando a gente ficar
bem, vai lembrar e pensar "podia ter sido com você", mas estava
desinteressado demais pela própria vida. não tenho feito muitos
amigos, porque quanto mais as pessoas vão nos decepcionando, mais
medo a gente tem de confiar nas próximas que apareçam. queria
poder te visitar agora. te ajudar a terminar esses parágrafos que
levam manhãs inteiras pra serem escritos. queria poder ver a vida
como a gente via três anos atrás, lembra? tudo parecia ser tão
diferente. mais fácil, talvez. ingênuo demais, talvez. mas parecia mais
ensolarado, não parecia? o tempo vai passando e, cada coisa que
acontece, ou nos deixa amargos demais ou mal acostumados demais.
to me sentindo meio infantil nos últimos dias: já devia ter
aprendido ou devia parar de reclamar e não ficar dedando na mesma
tecla. ta quente pra caramba hoje, vou ficar imaginando um
sorvete de feijão contigo no Bairro da Liberdade, a gente podia
chamar a Nah e
o Guilherme com aquele sotaque carioca irritante,
haha.
Espero que as férias tragam tempo pra gente voltar a se falar
mais.ou pelo menos escrever mais. Tu continua a ser um dos melhores
amigos que tive até hoje, sem dúvida.

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e a gente tem vontade de desistir de um monte de coisas, não tem? aquela vontade de deitar ali e não levantar nunca mais. ou de dormir e acordar só em três dias, como se tudo fosse melhorar ou se resolver sozinho. e a gente tenta preencher os dias que sobram com quaisquer coisas que sobrem pra se fazer, dessas coisas que ajudam a esquecer das outras coisas chatas por algum espaço de tempo