bad day.
houve uma renuncia, mas junto com esse dia, uma grande
aproximação. Lembro que os pés pareciam maiores e maiores, dando uma
sensação de que nao tinham função, enraizando toda a existencia e toda a ligaçao
que no momento eu sentia com aquela voz trêmula. Teus lábios tremiam, meu
corpo tambem tremia, mas não me denunciava como a tua voz fazia contigo.
depois de muito tempo a conversa, a cumplicidade e a vergonha era a mesma. A
vontade de juntar nossos corpos era maior, quase inevitável, mesmo não podendo
acontecer. Senti todos os gomos em minha mão. O sulco escorrendo por meus dedos
e descendo, escorrendo. Olhei e procurei maior e maior altivez em meu caminhar,
queria olhar e fazer com que aquele momento - feito do acaso - fosse o mais
ensaiado possível, para que fosse tudo que um reencontro merecia. Embora tenha
acabado, larguei uma centelha de continuidade em teu punho, a sofridao que tremia
em teus lábios me dizia como podia ocorrer o caminhar dessas promessas.
Senti os punhos em meu nariz: o mesmo cheiro de anos atrás. Senti o peso de um
ombro. A possibilidade não esta em minhas mãos e mesmo assim sorrio
pateticamente e espero ansiosamente que o telefone toque. Estou esperando agora,
estou invocando a presença que esperei todo esse tempo. Como num pulo, estou no ar
ainda esperando voltar ao chão, milésimos de segundos adiante. Talvez estar no ar
e a sensação de querer cair seja melhor que sentir o chão sob os pés, mas ambas
são boas sensações. Elas fazem com que me sinta vivo e saber que ainda faço
teus lábios tremerem, ah, isso domina meu corpo inteiro, me entrega numa renúncia
em que esqueço do resto e mergulho aqui, onde posso me esconder e experimentar o
que foi terminado pelo o tempo e trazido de volta por ele.
Marco Antonio