das fraturas expostas.
choveu pra caramba, e a noite ficou longe de ter sido uma
noite contente. Chove ainda, e o domingo começou com
uma fratura que ficará exposta até que eu perdoe minhas
próprias babaquices. e nem começou a sangrar ainda. ou
sangrou tudo que devia. ou era oco lá dentro, sem nenhum
sangue pra sair. não tem nada espalhado pelo quarto: eu
acordei cedo pra arrumar, só o edredon continua do mesmo
jeito de quando acordei. tomei o banho mais rápido da vida
e me vesti tentando entender aqueles horários confusos.
chuva só combina com carro, café, pipoca e cama. mesmo
assim, saí de casa e a água caía gelada na cara, assim como
se me avisasse da idiotice, mas na hora parecia bom porque
eu ia acordando enquanto caminhava. a próxima cena não é
complicada de se visualizar, muito mais difícil é estar nela,
devo dizer. é só pensar no meu conto preferido do Caio:
"Para uma avenca partindo". mas ao invés de duas pessoas,
tinha só uma, talvez com todo um pensamento parecido sobre
as avencas e as samambaias, olhando pra ônibus que não
traziam nada. dois cigarros e um café no banco, no frio. na
volta a chuva já não parecia tão bacana e já me sentia mais
acordado do que gostaria de estar. outro banho que não limpa
nada aqui, mas também não faz a fratura arder. cama, outro
café, tantas coisas pra escrever, pra repensar, pra reconsiderar.
acordei em susto, saindo de um sonho que estava em outro
sonho, sabe. daí lembrei da ligação e acho que sorri um pouco.
a casa bem vazia e eu queria que continuasse assim por muitos
outros dias. seguro uma girafa vesga pelo nariz e que fóda:
eu entendo tudo. eu tava entendendo. só acho que é tudo
mais simples, tipo, sim ou não, vou ou não vou, 7 ou 9, querer
ou não querer. não precisa ser babaca, não precisa silenciar,
não precisa ignorar alguém que goste de ti, não só como
corpo, mas pela pessoa que se mostrou até ali, pelo pouco
que foi vivido. acho que não se trata apenas de relacionamentos,
mas como se encara a vida inteira e quem te rodeia: respeito e
consideração, essas breguices clichês que ninguém reclama
ao receber. e mesmo assim, sinto o cheiro e penso
"que massa, te acho tão massa". queria te tirar de dentro
desses conceitos idiotas sobre si mesmo e sobre condições,esses
sentimentos que te prendem contigo mesmo e a pessoas que não
te fazem crescer ou melhorar. e sobre o que deixa de viver por
causa disso. quanta coisa bacana que poderia ser. ter sido.
por nada, ou por pouco, ou por pessoas que mesmo presentes,
só te consideram por interesse ou. enfim, pensar pra caramba
agora. ou não. talvez eu só precise limpar algumas gavetas.
ou talvez eu só precise de um banho por dentro.