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chuva faz bem pra caramba. esse barulho, essa sensação.
sinto um telhado, um ar quente, uma folha caindo e agua
escorrendo lisa pela parede enquanto as palavras de clarice
escorrem pelo meu olhar. as vezes acho que ela me rompe.
as vezes acho que ela me junta. certamente eu me engano
quando penso que nada disso faz o meu hoje. mas não era
sobre chuva, clarice ou meus pedaços que não sei onde ou
quais são. era sobre meu não. eu tinha dito não, tinha
pensado não não e não, e me enganado que já tinha desencanado
pois não não não me importo com ele. você sabe - ou não -
que não me apego a isso ou aquilo e agora isso, e agora aquilo
de aparecer pra falar e logo sumir de novo. ou seja, vou deixar
de negar, deixar de mentir pra mim poque é ridiculo falar
uma coisa, repatir pra si mesmo como se tudo estivesse
resolvido e acordar no outro dia pensando na mesma pessoa
de três meses atrás. oi, deu. oi, não. eu quero aula, rotina
e qualquer merda que me tire daqui. que tire essa mulher
me vigiando o dia todo. que tire esse sono exagerado que
não me descansa. sim, as aulas voltam e alguém volta na
rotina diária de vê-lo passando e entrando na sua sala, conversando
com os amigos e entreolhando pra mim. então vou arranjar
verdade e dizer que é isso mesmo que eu quero e quase
sempre isso parece que jamais vai acabar. sentimentos de
uma noite tem obrigação de terminar três minutos depois
do sexo, e agora isso: três meses de pura chateação comigo
mesmo. mas logo alguém aparece: sempre tem algum merda
aparecendo. e eis que tem aparecido em demasia. eu canso
de precisar levar escorregando as pessoas nesse 'não quero
agora, mas vou te passar a conversa e deixar na reserva, sabe,
caso os três meses não dê em nada'. e é bom. e se faz sexo
pra olhar uma parede verde vazia, um quarto com janelas tão
altas que não parece ter janelas. cada vez mais faltando ar
ou vontade de fazer alguma coisa.
ninguém me ofereceu voltas tão boas quanto as tuas e eu
sinto falta de pele, dos ossos das mãos, de olhar os pêlos e
de olhar vazio com sentimento. não é perder nem ganhar
alguma coisa: é sentir que sempre está pensando no
momento posterior, o que falar, o que fazer, tudo tudo de
bacana que pode acontecer e esquecer esse segundo;
qual, esse?
não: esse que já passou. e eu não quero que esse ano signifique
alguma coisa, eu só queria me animar por qualquer coisa e
sinto que. não, não acredito em nós. não acedito em mim.