sábado, 26 de julho de 2008

sabado.

Sou minhas idéias em uma tinta, uma essência numa cor.
A forma de um traço é o caminho que o ontem contorna nos sinais amanhecidos. Os textos são perfeitamente retos e é tão insuportável conviver com eles que posso tornar pior morar com suas cinzas. Se hoje não preciso ter idéias –elas não dariam certo- ouço as frases dos próximos dezesseis dias, todas num recorte, todas flutuando na água que escorre pela noite. Eu não preciso mais desistir. Também não preciso esperar. As coisas tornam-se pegajosas, harmoniosas. Calmas demais; por isso deixei de desistir. As coisas são como eu estou e a cada camada de brancos aumenta o tempo que amo e odeio essa boa convivência. Ela é contra e é neutra. Mas não preciso mais esperar, o dia se forma em blocos de cores sem graça e cada aglomerado de tempo se dissolve como se as manchas que o frio causa na pele branca fossem ilusões de açúcar que se dissolvem eu meu estomago. E cada frase infla em meu peito enquanto o telefone toca –outra ilusão- e, de repente, sinto que todo esse ar esfumaçado que entra em meus pulmões trouxe qualquer coisa nova, qualquer atitude jamais mencionada. Uma família inteira de cegos que não podem enxergar seu caminho aprendeu a sentir as pedras com as mãos e, mesmo sem ver pra onde estão indo, conseguem ficar de pé nas pedras e sentir o vento da glória falsificada, já podem se afogar em pequenos troféus gelados. Talvez eu não quisesse tenta conversa ou o silencio exagerado das molduras na gaveta. Mas sinto que é isso que a casa quer, é isso que o dia assovia sob meus dedos: não preciso decidir ou acionar nada, apenas sentar sobre a mala e sentir a facada de um vento novo que é o ar que qualquer estrela constrói sob as águas pelo nosso amor e pelo o que podemos nos tornar.
Marco Antonio

quarta-feira, 23 de julho de 2008

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Fiquei um ano pairando sobre telas e teclas e hoje isso não me atrai mais. Sou só eu, eu e você e não tem mais nada, só o mundo inteiro dentro de uma tela, espreitado sob um clique.
Uma parte é tempo perdido, ilusão cansativa de estar vivendo, sentado e vivendo nos próprios dedos, se equilibrando no que pode ver e que só imagina tocar. As vezes vêm a anciã de mudar e ser todos ao mesmo tempo, rever tudo e mudar novamente.
Pra quê sair? já nem precisa levantar.
Tenho os quadros ao meu alcance enquanto os pêlos se arrepiam em fila; mas isso realmente não me atrai mais.
Ficaram resquícios de vontade, restaram algumas janelas, algumas partes que ainda me interessam. Vivendo nessa mentira não podia começar a procurar a essência do que quero viver. Procuro me excitar com outros corpos e, enquanto as folhas de sálvia secam, os olhos começam a murchar. A diferença é não ser mais escravo da dor que essas distâncias trazem, é difícil acabar com elas e assim é melhor esquece-las, esquecer do caminho pra não querer mais voltar. Continuo procurando, ela pode estar nas faces, nos olhares e nas atitudes pouco genuínas, mas não descansa nessa nova e extensa mentira da qual todos já querem fazer parte.


Marco

quarta-feira, 9 de julho de 2008

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Agora ela leva a beleza da hora;
tudo o que estava aquei escapou pelas frestas de uma tradução.
nao sei se continuarei aqui,
cansei de esperar e de fazer tanta coisa pra me ajudar.
Entao eu deito o rosto pra sobreviver e me expor à luz.
Me comprometi com o que esparramei no chão e preciso decidir que rastro limpar.
Quando levantei pela manhã me arrependi de
ter escrito,
de sentir o comprometimento, de ter prometido e de achar que
queria que tudo ficasse bem também.
Comecei a desistir antes de começar novamente e não saber o certo,
nao se decidir por um rastro é tao enlouquecedoramente envolvente que
cascas sentiram um alivio imediato. Toquei o medo de deixar de ser o
mesmo encontro , pois ha tempos deixaram de me querer por perto.
Enfim, foi-se o tempo em que as sensações eram mais fáceis.
Esperei, disse que receberia; deitei e pintei tudo de verde.
No segundo dia esperei mais um pouco, esperava apagar de mim a sensação de existir sozinho.
Mas a tarde se encheu de luz sobre os lençóis azuis e ouvi aquela musica das miligramas,
da garota do remédio...e a beleza das horas se foram com o próprio tempo que passou.


Marco Antonio