quarta-feira, 5 de agosto de 2009

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caí da escada e rolei três andares abaixo: não passei. tinha

tanta certeza que seria aprovado, que foi complicado me
acalmar e não responder 'obrigado por NADA' pro examinador
quando ele falou lenta e sinistramente com voz de quem está
atrás do ventilador 'infelizmente você reprovou'. claro, não
adianta bosta nenhuma eu ficar pensando demais, mas é incontrolável.
pensamentos são invasores, parasitas. não é o fim. fecho os olhos
e lembro, mas não é o fim. hoje já ouvi Chelsea Girls 917349847
vezes e não quero dormir. vou fazer de novo. pra quê eu preciso
disso, pra quê?

[e pela minha lei, a gente é obrigado a ser feliz] -Chico Buarque
ficar em pé na porta e sentir o vento logo depois de acordar
traz uma sensação tão boa por alguns segundos, que é possível
esquecer de tudo tudo tudo, ou quase tudo. logo os olhos ardem,
não tenho pernas e as costas querem ir ao chão, mas não tem
jeito: a gente é obrigado a continuar, mesmo que não se sinta
feliz. o dia todo pela frente, falo assim, como se os meus dias
parecessem dias, como se minhas cinco horas não parecessem
dez e como se realizar as vontades de agora eliminassem as que
virão em seguida. queria ser cativante, ter menos silêncio na
face e uma altivez inexistente em meu corpo. mas ah, é assim:
ossos, campos, contas e planos que se dissolvem até o fim do dia.