dos cigarros e cafés.
embora muita coisa passe tão rápido que eu nem perceba,
acho válido ter de passar por certas situações: os amigos não
são mais os mesmos, ainda que presentes; as roupas mudaram;
as músicas melhoraram; as atitudes ficaram mais congruentes
e os sonhos nunca foram embora. daí ainda rola aquele medo
clássico de repetir as merdinhas da mãe, tão clássico que não
surpreenderia qualquer análise futura. já não existem mais
óculos escuros e casacos cheios de segredos. os sonhos
e os medos se condensam em cafés e cigarros apenas. pode
existir o medo de ficar só, de não receber amor de volta, de viver
a vida toda no mesmo lugar. pode acontecer de tudo mudar, de
receber amor de volta, de estar tão feliz por ter alguém -que nem
sabe como se comportar- e aceita a alegria, pode mudar tanto e
sentir-se sempre completo. em qualquer caminho, tudo estará
mais vazio sem os preenchedores materiais de qualquer sentimento.
aqueles que acompanham desde que lembra que sente qualquer
coisa: porque sempre parecerá vazio sem eles, não pode existir
qualquer romantismo sem os cafés e os cigarros. e só a solidão, o
vazio e o sentir-se tão bem por ter alguém pode enchê-los de vida,
preenchê-los de suspiros e passar todas as tuas dores ao apagar as
bitucas no cinzeiro.